Resumo: A demanda chinesa por commodities tem capacidade para moldar fronteiras agrícolas em muitas partes do mundo, incluindo a Amazônia. Este artigo é um relatório preliminar sobre a expansão da fronteira agrícola na Amazônia brasileira, impulsionada por aumentos na produção de soja, extensão da área cultivada, cruzadas com dados de satélite sobre as taxas de desmatamento na menor escala possível: o nível municipal. O estudo identifica 21 municípios formando quatro eixos de expansão de fronteira na Amazônia, onde a lavoura de soja pode ser a causa do desmatamento indireto por deslocamento de outras atividades, como é o caso da pecuária. Apesar da Moratória da Soja, as fronteiras na Amazônia continuam mudando. O artigo defende que mais pesquisas nesses quatro eixos são necessárias para entender melhor a relação entre essas duas indústrias em termos de uso da terra, bem como os impactos socioambientais in loco. Além disso, é fundamental traçar as conexões entre esses eixos com o desenvolvimento presente e futuro de obras de infraestrutura na Amazônia, muitas delas com investimento direto chinês, para antever a expansão da cadeia de valor da soja, que pode estar ignorando de fato a intenção inicial de uma cadeia de valor de desmatamento zero.

Abstract: Chinese demand for the world's commodities has the capacity to shape agricultural frontiers in many parts of the world, including the Amazon. This article is a preliminary report on findings concerning the expansion of the agricultural frontier in the Brazilian Amazon driven by increases in soybean production, extension of cropped area, cross-referenced with satellite data on deforestation rates at the smallest possible scale: the municipal level. The study identifies 21 municipalities forming fours axes of frontier expansion in the Amazon, where soycrops may be the cause for displacement deforestation, as it is the case of cattle ranching. Despite the Soy Moratorium, frontiers in the Amazon keep shifting. The article advocates that further research in those four axes is needed to better understand the relationship between those two industries in terms of land use as well as the socio-environmental on the ground impacts. Furthermore, the connections between those areas with present and future infrastructure development in the Amazon, many counting with direct Chinese investment, will be key to the expansion of the soy value chain, bypassing the initial goal of zero-deforestation.

Resumen: La demanda china de commodities tiene la capacidad de dar forma a las fronteras agrícolas en muchas partes del mundo, incluida la Amazonía. Este artículo es un informe preliminar sobre la expansión de la frontera agrícola en la Amazonía brasileña, impulsada por el aumento de la producción de soja, la extensión de la superfície plantada, datos satelitales entrecruzados sobre las tasas de deforestación en la escala más pequeña posible: el nivel municipal. El estudio identifica 21 municipios que forman cuatro ejes de expansión fronteriza en la Amazonía, donde el cultivo de soja puede ser la causa de la deforestación indirecta debido al desplazamiento de otras actividades, como la cría de ganado. A pesar de la Moratoria de la soja, las fronteras en el Amazonas continúan cambiando. El artículo argumenta que se necesita más investigación sobre estos cuatro ejes para comprender mejor la relación entre estas dos industrias en términos de uso de la tierra, así como los impactos sociales y ambientales in loco. Además, es crucial establecer las conexiones entre estos ejes con el desarrollo presente y futuro de las obras de infraestructura en la Amazonía, muchas de ellas con inversión directa china, para prever la expansión de la cadena de valor de la soja, que de hecho puede ignorar la intención de una cadena de valor de deforestación cero.

Resumo A governança de recursos naturais está intimamente ligada com a governança de pessoas. No entanto, na prática da implementação de projetos como barragens, aspectos técnicos são priorizados como mais urgentes em detrimento das questões sociais. O uso da água para a geração de eletricidade no Brasil é um caso de excelência que exemplifica como a desconsideração das salvaguardas socioambientais e da participação social leva invariavelmente a conflitos. Estes atrasam os trabalhos de infraestrutura que são considerados essenciais para o equilíbrio do sistema elétrico nacional, como ocorreu em Belo Monte. Recentemente, manifestações sociais se tornaram o bode expiatório para justificar crises no sistema. Este artigo visa a discutir o conceito de "crise" desde uma análise histórica das políticas públicas do setor. O artigo conclui que a presente desconsideração dos procedimentos sócio-ambientais é uma doença auto-infligida que contribui para um estado de permanente conflitividade na expansão do setor elétrico brasileiro.

Abstract The governance of natural resources is intrinsically linked with the governance of people. However, in practice, social aspects are often viewed as secondary to more technical and pressing issues in the implementation of projects such as dams. The use of water for electricity production in Brazil is a cas d'excellence that exemplifies how the bypassing of socio-environmental safeguards and democratic participation of affected people leads to conflicts. These conflicts delay infrastructure works, such as the Belo Monte Dam, that are found to be crucial for the equilibrium of electricity supply. Recently, social manifestation have become the scapegoat for the sector's crisis. This article discussed the "electricity crisis" from a historical policy analysis perspective. It concludes that the present disregard for social and environmental procedures is a self-inflicted disease that only contributes to the longer-term state of conflicts in the expansion of the electricity sector in Brazil.

Resumen La gobernanza de los recursos naturales está estrechamente vinculada con la gobernanza de la gente. Sin embargo, en la práctica de proyectos como represas, aspectos técnicos se priorizan a expensas de los sociales. El uso de agua para la generación de energía eléctrica es un caso de excelencia que ejemplifica cómo el incumplimiento de salvaguardias sociales y ambientales y de la participación social, conduce a conflictos. Estos retrasan obras de infraestructura consideradas esenciales para el sistema eléctrico nacional, como ocurrió en Belo Monte. Recientemente, manifestaciones sociales se han convertido en el chivo expiatorio para justificar todas las crisis del sistema. Este artículo tiene como objetivo discutir el concepto de "crisis" desde un análisis histórico de políticas públicas del sector. El artículo concluye que este desconocimiento de los procedimientos socio-ambientales es una enfermedad auto-infligida que contribuye a un estado de tensiones permanentes en la expansión del sector eléctrico brasileño.